Publicado dia 05/10/2016
A intenção dos pesquisadores brasileiros é fornecer os inventários produzidos sobre cana-de-açúcar para o SICV Brasil e para a Ecoinvent, ambos parceiros da Embrapa
Um estudo de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) realizado pela Embrapa mostra que o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil impacta menos o meio ambiente do que se imaginava. A pesquisa, apresentada no V Congresso Brasileiro de Gestão em Ciclo de Vida, realizado de 19 a 22 de setembro, em Fortaleza (CE), demonstrou que a produção brasileira é mais limpa do que apontavam estudos internacionais.
Em comparação com estudos de ACV de cana-de-açúcar anteriores, os pesquisadores brasileiros observaram menores impactos em categorias como ecotoxicidade terrestre e aquática, formação de oxidantes fotoquímicos (ou “névoa fotoquímica”) e degradação da camada de ozônio.
A intenção dos pesquisadores brasileiros é fornecer os inventários produzidos sobre cana-de-açúcar para o Banco Nacional de Inventários de Ciclo de Vida – SICV Brasil – e para a Ecoinvent, ambos parceiros da Embrapa. “Se alguém quiser comparar o etanol de cana brasileiro com o etanol de milho americano, por exemplo, vai procurar inventários em bases de dados como essas. Isso é um apoio para a competitividade da nossa produção”, explica Marília Folegatti.
Os pesquisadores caracterizaram o sistema de produção de cana-de-açúcar de todas as regiões produtoras brasileiras e utilizaram para os cálculos de emissões as metodologias mais recentes com ajustes para a realidade local. O trabalho foi desenvolvido pelo projeto ACV Cana, coordenado pela Embrapa, com a participação de vários parceiros, como o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).
A pesquisadora Marília Ieda da Silveira Folegatti Matsuura, da Embrapa Meio Ambiente (SP), responsável pela pesquisa, salienta que esse é o primeiro estudo completo e regionalizado de ACV para a cultura de cana. “Existem vários grupos brasileiros que abordam questões como eficiência energética e emissões de gases de efeito estufa, mas não avaliam outras categorias de impacto e nunca se adotou uma abordagem regional”, afirma.
Os inventários existentes até o momento foram desenvolvidos no exterior, usando dados secundários. Por este motivo, não refletiam as especificidades da cultura canavieira brasileira. O maior desafio dos pesquisadores brasileiros foi elaborar um inventário de ACV adaptando a metodologia à agricultura tropical e observando a atual realidade dos sistemas de produção praticados no País. “Sempre que se faz um inventário, qualquer emissão para o meio ambiente é calculada por um modelo, mas esses modelos foram todos criados para países de clima temperado com realidade completamente diferente da nossa agricultura tropical”, explica Marília.
Software para modelagem de pesticidas
Marília lembra que o inventário de cana-de-açúcar existente considerava que o Brasil ainda praticava a queima da cana na maior parte da área de produção no País, o que já não ocorre. Em relação à ecotoxicidade, os estudos derivados dos inventários consideravam o uso de pesticidas altamente tóxicos que já não são utilizados no Brasil. “O emprego de pesticidas na cultura de cana era muito pouco estudado, porque os modelos para entender esse comportamento eram bastante complexos”, conta a pesquisadora.
Como solução, a equipe estabeleceu parceria com a Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) que desenvolveu um software específico para modelagem de pesticidas, o PestLCI. O pesquisador Robson Rolland Monticelli Barizon, da Embrapa Meio Ambiente, coordenou a pesquisa que resultou na parametrização do software para o Brasil.
Metodologia
Para realizar o projeto, os pesquisadores dividiram os estados produtores em nove regiões homogêneas, em função das condições de clima e solo. O Estado de São Paulo, que responde por metade da produção nacional, também foi subdividido em cinco regiões.
Fonte: Embrapa
Imagem: Paulo Lanzetta