Publicado dia 28/09/2018
A circularidade se torna mensurável, transparente e muito mais eficiente nos sistemas produtivos e no uso dos recursos naturais, aponta Thiago Rodrigues, do IBICT
Aconteceu nesta quarta-feira, 26 de setembro, em São Paulo, o ‘Diálogo sobre Economia Circular’, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fundação Espaço Eco® (FEE®), Centro de Inovação em Economia Circular da Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). O evento reuniu 50 representantes da indústria, governo, academia e da sociedade civil para trocar experiências e identificar desafios e oportunidades desse novo modelo para o Brasil.
Na ocasião, foi apresentado o levantamento de uma pesquisa realizada pela FEE® em parceria com a CNI que aponta que, para 91% dos gestores e especialistas de sustentabilidade, as empresas aplicam conceitos da economia circular, que prevê o aumento de vida útil de produtos e materiais. No entanto, para 71% dos entrevistados, esses esforços concentram-se na recuperação de recursos, como a reciclagem. Outros 14% destacam que há iniciativas de uso de insumos que podem ser ou foram restaurados, 7% disseram que há foco na oferta de serviços por meio de produtos e 7% trabalham com inovações que aumentam a vida útil dos produtos.
Os participantes debateram ainda a importância de as empresas incorporarem a prática de gestão do ciclo de vida (GCV) dos produtos. De acordo com a pesquisa da FEE® e CNI, 90% conhecem o conceito de gestão de ciclo de vida e 86% conhecem a metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). “Essa percepção, bastante significativa, dos colaboradores da pesquisa sobre os conceitos de GCV e ACV é um ótimo indicador de que já existe uma visão sistêmica dos processos produtivos, das responsabilidades de fornecedores, transformadores e consumidores. Assim, a circularidade se torna mensurável, transparente e muito mais eficiente nos sistemas produtivos e no uso dos recursos naturais.” avaliou Thiago Rodrigues, pesquisador do programa ACV do IBICT.
De acordo com o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, a economia circular não deve se restringir apenas à reciclagem, pois é uma agenda estratégica que deve mudar o modelo de negócios e promover a inovação. “Esse novo modelo é uma alternativa importante para solução à mudança climática, redução de resíduos e produção mais eficiente”, disse Bomtempo. “Para a alavancagem da economia circular, é preciso considerar melhorias no acesso ao crédito e incentivos à inovação.”
A opinião é compartilhada pelo diretor-presidente da FEE, Rodolfo Viana. Para ele, ainda há pouco enfoque na concepção de produtos com maior ciclo de vida e mudança na mentalidade para a adoção do conceito na estratégia dos negócios. “A pesquisa detectou também que a grande motivação para a adoção desse novo modelo é econômica, mas há também uma preocupação genuína com os impactos ambientais e a escassez de recursos”, destacou.
O especialista da CNI Sérgio Monforte apresentou o estudo Economia Circular: o uso eficiente de recursos, que a entidade entregou aos candidatos à Presidência da República. Entre os desafios apontados no documento estão a cumulatividade tributária em produtos reciclados e remanufaturados e as barreiras no transporte de resíduos pela necessidade de notas fiscais que detalham o valor dos bens e os impostos a serem recolhidos. No debate, participantes do evento falaram sobre a necessidade de regulamentar questões específicas, como a remanufatura e desonerar a doação de alimentos, por exemplo.
O professor Aldo Ometto, do Centro de Inovação em Economia Circular da USP, ressaltou que negócios em economia circular não se focam em produtos e serviços, mas na oferta de maior valor a todas as partes interessadas. “É geração de valor por mais tempo e para mais stakeholders. É preciso não só desenhar produtos e serviços, mas negócios a partir das experiências que as pessoas querem ter”, pontuou.
(Com informações da CNI e FEE®)